Não, não se tratava de feriados como os quais estava acostumada. Era só mais um dia calmo e reprimido. Tentava agarrar tudo quanto era emoção. Não queria mostrar de jeito nenhum nada que revelasse o que se passava por dentro na alma. Mas acabavam fugindo dela umas emoçõezinhas tão molhadas e pesadas que inundavam o rosto. E era contra os abraços naquela hora. Gostava de abraços despretensiosos, que surgiam do nada. Por amor ou carisma ou desejo ou vontade. O único abraço do qual se negava a receber era os de conforto e apazigue. Não se sentia no direito de choro. Nem de risada em forme de disfarce do nervosismo. Colocava-se na posição de bicho arisco. Nem nos olhos conseguia olhar. Mas uma hora a enchente da face ia embora. Ouvia umas músicas de lágrima e outras de gargalhada. Ria e chorava num instante. E não gostava mesmo assim dos feriados. Os de domingo ou os de maio. Só não gostava. No geral nunca gostou de feriado se não fosse para dormir ou fugir pra uns lugares alheios a rotina da mesmice. Não achava convincente a ideia de comemorar o dia de quem quer que fosse. Não encontrava resposta para isso. Mas aceitava e talvez respeitasse. Ia no embalo algumas vezes para tentar se sociabilizar com os padrões próprios de sociedade que acredita em qualquer palavra final. Não viviam a vida dela. Não sabiam dela. Nada. Apenas o disfarce com bons discursos confusos e esquisitos. Coisa dela. Basicamente umas piadas tortas seguidas de risadas insanas. E por fim. Só preferia estar sentada numa praça qualquer. Num banco que fosse. Na grama verde de qualquer parque. Sem ninguém. Que era pra não recordar de nada e ter seu próprio tempo de rir e chorar em versão contínua. Sem precisar provar de abraços caridosos e amargos na boca. Não acordava a muito tempo com o gosto de remédio no canto da língua e preferia a vida dessa forma. Gostava bem mais do que feriados pra comemorar data que fosse. E ainda em frente a tela, ouvia músicas que falavam da vida cigana. Se apegava a qualquer detalhe que fazia o dia passar rápido. Era pra ver se dava a sorte de se sentir melhor. Nunca deu. O dia demorava como se esperasse o fim dos tempo. E cada hora um tijolo a mais para segurar. Uma outra coisa para pensar. E mesmo sem cimento. Cada bloco ia se aglomerando em sua cabeça. Quase explodia. Queria que passasse rápido e a insônia a pegava de jeito. Forte. Pensava em um bocado de palavras mas no fim não dizia nada. Permanecia na confusão e esquisitice que induzia ao erro nas pessoas. Tiravam outras idéias. Sempre. O feriado acabava mas o sono não vinha. E percebia que tinha passado quase todas a vinte e quatro horas do dia acordada. E sobreviveu. De pé. Deitada. Rindo. Chorando. Debruçada nos braços pra segurar o cansaço das peças que a vida lhe pregava. Viveu mais um dia. Sobreviveu a todos. Afinal, era só mais um dia, calmo e reprimido. (Sobre)Viveu.
(De menina e feriado - 12/08/2013 - 01:24)
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Parou. Reparou. Escreveu e se foi.