Textos velhos e novos. Um emaranhado de sentimentos à flor da pele.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Meus monstros de armário. De pano de roupa. De objetos noturnos. Minhas sombras de frestas de meia luz. E ai de quem se dirigia a tais como sendo imaginários. A realidade é mesmo vã. Me deixa tonta de pensar e pensar. E desde roliça. Mais baixa, sim. Mais gorda, também. Mais cabeluda e um bocado apática de disfarce. Que se comunicava através de bilhetinhos perdidos pela casa. Um certo dia desenhei um circulo amarelo em um pedaço de papel rasgado todo torto e circular, com a frase "Eu quero um:" Tiveram que me adivinhar na vontade de comer um simples ovo. E o mais sucinto de todos os absurdos era Juca. Que vivia para lá e para cá comigo. "Eu vou para o céu!" E se foi. Me deixou e eu tão nova. Não apareceu mais. E eu tentava fingir que ele ainda estava comigo, mas não estava. E foram indo os monstros de armário, de pano de roupa, de objetos noturnos. E até os que falavam comigo nos azulejos do banheiro e da cozinha. E as Susis. Que eram Kelys e Sabrinas e algumas não me lembro mais. Não tinha talento com nomes. Mas tinha talento para o surrealismo nas amizades. E a exoticidade do jeito calado. E cara de gripe e os olhões fundos. Um dia fiquei magrelinha de tudo. Os olhos mais fundos ainda. A pele mais clara das claras. E rosto pintado. Minha vó me comparava com bananas, digo a fruta. Era pelas manchinhas iguais no rosto. As mais brutas me chamavam de enferrujada. Minha vó não. Poderia ser dominada por todos os demônios da vida, mas sempre dava um jeito de domina-los primeiro. E vivia com seu "ódio mortal" de todas coisas. Com a ideia fixa de que cada chinelo no meio do caminho era um plano para a matar. E gostava do seu lencinho cor-de-nada que usava pra tudo. Para a gripe, para espantar os gatos, as moscas, os inconvenientes. Seus meios banhos de caneca que dizia que era pelo frio. Coisa de velho, a gente intende e quando é criança nem liga. Achava um barato. Ah, eu gostava da velhinha baixinha e nervosa tal qual a mim mesma. E no geral minha companhia era essa, os amigos surreais , a senhora minha avó. E estava muito bom. Me torcia toda quando ia cumprimentar alguém. Ficava toda torta e desengonçada. Dura feito pedra e com um laconismo daqueles. Me chamavam de bicho-do-mato. E eu pensava que falavam das cigarras ou dos pirilampos. Nada. Falavam daquelas onças bravas e bestas mesmo que não saia da toca. Não, não mudei tanta coisa assim. A hiperatividade toma conta, sim. Mas me entupo e trava e emudeço. E sempre quero os meus monstrinhos de volta pra eu pegar na mão e me sentir mais segura.

(04/08/2013)

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Parou. Reparou. Escreveu e se foi.