Jacareí, 08 de Abril de 2013, Segunda-Feira - 21:51 (aproximadamente)
Me atrasei como de costume, gosto dessa coisa despretensiosa da vida. Passei porque queria me falar, e quando perguntei sobre o que, veio com essa estória de presente de aniversário. É pura sorte ter pessoas que fazem questão. Ganhar um do Vivaldi com aquele cheirinho de livro novo era fazer de tudo para que eu ficasse. Sempre fui assim, de dar valor para o melhor da vida. O que é um dia de aula morta perto de passar a tarde inteira matutando a vida? A gente gosta é de canguiço! Dessas coisas com corzinha de nada, meio desleixada, meio farrapo. Gosto dessa beleza torta sabe?! Confesso, hoje eu perdi um pouco dessa falta de costume. De pegar o pior de mim e ficar jogando no ventilador. O cheiro da infância mal sucedida e todas aquelas coisas que eu ouvia falar era pura besteira. A vida é um pileque que não para nunca. Se aprende mais em uma tarde com uma amiga do que na sala com as briófitas. Essa mania de viver na surdina, hora aqui, hora lá, fazendo as coisas pelo prazer do impulso. Sentíamos muito. Se enxerga! Você se enxergou? Reparou? Eu disse que você é você, e pode! Me aventurei em uma xícara de café, valeu muito a tontura, o flutuar da paisagem o rodopio da secretaria e o embrulho no estômago. Valeu a tarde toda que eu não queria que tivesse fim. "Às vezes parece que você veio daqui!" Disse sorrindo com as mãos no ventre e olha que faz anos. Engoli a seco o choro de doçura. Naquele tempo eu tinha medo de olhar para os lados, cada canto que passava era uma tortura de me ser. "É culpa do capitalismo!" ela disse e eu pensei um pouco ao contrário quando falou de capitalismo no amor. O que diabos o amor tem a ver com isso? O amor tem a ver com muita coisa, ela tinha razão mais uma vez. E se me pedia para escrever obedecia com o medo danado de sair pelo avesso. Era muito boazinha para falar que estava ruim. Me atrevia e mandava umas meias palavras soltas. Relativo! É relativo! Eu te disse, mas rabisquei e provoquei a curiosidade que se partiu em duas com o barulho de telefone. É tudo relativo, acho que por isso vivemos nessa de fazer tudo quem vem. Ela estava naquela de nada com nada. Tênis de um, calça de outro. Xadrez com listras? Não tem nada não. Estávamos muito das sociais por hoje. A despretensão da vida era como encosto que não largava mais. Bem melhor para viver. "E você acha que as grandes mulheres são felizes?" Eu não acho que são e acho. Acho que essa felicidade está embutida na nossa efemeridade constante. Senti segurança em me inclui nessa. A hora percorria as calçadas e quando se despediu fui logo ver o nosso violão. Peguei a tristeza para por em um envelope e mandar para Paris. Paris que não tem nada a ver com gente à toa. Me trouxe um arzinho de esperança juvenil, parece que sente tudo que sinto. Que foi com ela como é comigo, e se eu chegar na idade dela com esse ar de poeta. E decidimos que era assim mesmo. A vida. Acontece com você, acontece comigo. E nunca tem hora para acontecer, nem razão, nem porquê. Gosto de aprender a vida com ela. Bem melhor que eucariontes. Também não quero nada com nada. Só quero e pronto! Quero porque quero. É meu modo de sentir a vida. Vem rasgando, doendo. Mas não tem nada não, ela disse que logo passa e volta outra vez. Fui para casa ouvir o meu Vivaldi estava tão ofegante que me esqueci do sorvete de chocolate. A tarde é tão melhor quando se faz sem pensar. Um "olá" vira almoço, café da tarde, despedida no ponto de ônibus. E lá foi ela. Não esperei entrar no coletivo, fui saindo e sentindo aquele movimento de poesia no fim da tarde que me fazia um bem danado. Mas não tem nada não!
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Parou. Reparou. Escreveu e se foi.