Jacareí, 10 de Dezembro de 2012, Segunda-Feira - 21:15 (aproximadamente)
Insônia,
Passar as noites em claro tem lá seus fetiches. Ver o sol imponente despontar por entre os prédios, ver a lua se despedindo para oriente, e os pássaros fazendo a festa no telhado. Eram seis da manhã, sete, oito e... Para que dormir se já está tudo perdido mesmo? Fui tomar uma boa xícara de café com um pingado de leite e um divino pastel amanhecido, para começar bem aquela manhã, mas bem mesmo. Sabe como é? E no entra e sai daquela paradoxa rede social, porque os tempos são outros. Nada de datilografia, cartas ou garrafas de leite atiradas ao mar, e sim aquela monótona rede social que era terrivelmente sedutora. Ganhei por lá uma canção para ouvir. Oh Darling! Na voz dos Beatles era para começar realmente bem o dia, e poxa vida! A hora do almoço já quase despertava. Soube disso com a queda pressão. Era tontura pra lá, enjoo para cá, e lá fui eu dar mais uma ou duas bicadinhas no pastel amanhecido que comia por tabela. As mãos e pés inchados e, quanto ao resto do corpo, não se ouvia nem falar, haviam se desmanchado em uma outra madrugada. restou então a alma, vi os primeiros raios do sol com outro olhar, tinha uma coisa que a tempos não tinha: Inspiração! E seria ela para o que fosse, para olhar pela janela, para cantarolar qualquer besteira, para escrever umas frases soltas que vão se encontrando nesse rumo de vida contada. Resolvi guardar só para mim. Sim, tinha medo de gastar, esgotar, executar toda aquela sensação. E foi assim que acumulei mais de mim para eu saber. Descobri que gostava de assistir ao jornal com minha mãe, não sei se era pela aventura das luzes das viaturas, ou pelo programa de família reunida. Dava um gostinho bom, sabe? Fazer tudo junto, como em um comercial de margarina, sei lá, gosto dessas coisas... E por falar nisso descobri que gosto tanto de coisas bobas como eu não imaginava. Mas auto lá! Bobas para o resto do mundo, porque para mim ecoavam fantásticas. Ou você também não gosta de rir de qualquer coisa atoa com sua mãe? Ou espiar, nem que seja um pouquinho, o mundo lá fora, lá na rua de casa, e ver o dia-a-dia dos vizinhos, dos cachorros, das pombas que fazem barulho engraçado, do seu gato posando para quem quer que fosse admira-lo. Passar as noites em claro realmente tem seus fetiches. A noite é misteriosa, e eu gosto de brincar de silêncio para não acordar ninguém, mas tenho que admitir, que sempre acabo perdendo. E nesse vai e vem de dias que passam sem os olhos se pregarem, eu tomo minhas xícaras de café, eu vejo meus jornais, ouço minhas músicas cheias de vida, rezo para os meus santos, faço caminhada dentro de casa, assisto a novela mexicana... Talvez eu esteja vivendo mais, talvez dormi seja perca de tempo, ou então tudo isso é baboseira, mas seja lá o que for, estou aprendendo a gostar, ou pelo menos suportar. Porque a vida tem lá seus mistérios, que não cabe a mim desvenda-los, mas que eu saiba tirar meus proveitos. E eu que andava enferrujada nas minhas leituras, estou lendo dois de uma vez. E dessa vez o Jorge Amado tirou férias, Quintana está repousando ao lado do Vinícius e da Clarice, Cecília está cuidando da menina que quer ser bailarina, e eu vou experimentando novos sabores, encorajando minha fé, desbravando o belo mundo que a pouco conheci nessa forma tão simplória. E que todos os santos me ajudem!
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Parou. Reparou. Escreveu e se foi.