Um dia, por motivos de hiperativismo agudo, e bobagem da vida, que nos faz sonhar e rir e deixar escorrer pelos pulsos objetos de valor - e descer as corredeiras causando polêmica contida em forma de preocupação - Eu o deixei ir. Estava preocupada mais com o estrago que poderia ter feito com a aventura do dia e o clima de "algo saiu errado" que poderia preencher o ar. Forjei tristeza passageira. Mas de verdade ri muito de ver aquela coisica rolando corredeira abaixo. Na verdade nunca me importei. Sempre fui de gostar de coisas bonitas - isso é, coisas bonitas para mim, na exoticidade e dramalhão que acho que herdei da minha galaxia - Ninguém nunca entendeu nada. Seja de roupas, objetos, modos incertos de mistura de estabane com insegurança e pura timidez - que vira uma bomba falante pra caramba e totalmente atrapalhada e que ainda as vezes viaja pelo mundo da lua - esses gostinhos que enche a boca de qualquer um pra afirmar com todas as exclamações possíveis, "Você é estranha!" Tudo bem. Sou estranha do modo estranho mesmo. Sem ser bom ou mau. Porque ai depende de quem está perto. Ou que contribui pra estranheza, ou saiba superar. Acontece que nunca liguei pra muitas coisas. E creio que tenha perdido o gosto por mais essa. E foi traumático esperar o repouso na UTI de arroz roubado da cozinha de casa, que quase tive que sair correndo com um "O menina, isso custa dinheiro." pelo caminho. O quilo do arroz ou a vida do celular? "Tudo bem, não me importo de jantar arroz radioativo." E desaprendi a manter na bolsa essas tais coisas de valor. Gostava dele porque achava um barato aquela coisa de apertar a tela e tudo acontecer. Caipirismo ou cafonice. Sei lá, gostava porque podia manter minhas trilhas sonoras de todos os instantes por perto. Sou do tipo musical, sabe? Que tem música pra todo mundo e pra toda hora. E gostava de fotografar bobeirinhas lindas pelo caminho. Mas estava de saco cheio pra aquela coisa toda. O liguei. Certifiquei-me da loucura que estava, porque depois que escorregar numa corredeira e cair com tudo em um rio você deve ficar meio maluco com alguns erros e falhas, e para isso não precisa ser um celular. Gostava do meu antigo-novo. Com teclinha dura e sem muita opção. Mas dava aquele ar de simples e disso eu sempre gostei. Sim, sempre gostei de coisas aleatórias. Como escrever palavras para um celular. Mas que besteira. Quando liguei outra vez vi a foto da lesma que tem os centímetros do meu pé. Uma das fotos que mais gosto nessa vida. Só que achei esquisito e preferi abandona-lo por mais uns dias no seu leito parboilizado. Fico inventando trilhas sonoras na minha cabeça. Olhando pra cada pessoa e pensando qual música combina com quem. E olhando os velhinhos pela rua e imaginando eles de pastel se eu soubesse desenhar um pouquinho melhor. E apenas praticando a metade do meu ritual de quando achar um borboleta tentar pega-la pelas asas e fotografar as cores que ficam nos dedos por conta do seu pó-de-pirlimpimpim, mas sem fotografar. E talvez eu viva melhor e pratique a criatividade e exercite a memória. Tenho péssima memoria para as coisas, com alguns surtos de lembrança plena de coisas antigas. E talvez viva um pouco mais sem me preocupar em parar para anotar a beleza. Posso manter ela dentro da cabeça para caso eu me lembre um dia. Continuando com o gosto pelas coisas leves. Sem ser hipocritamente frugal, apenas "Que se esquece e deixa escorrer pelos pulsos coisas de valor."
(18/07/2013 - 16:27)
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Parou. Reparou. Escreveu e se foi.