Jacareí, 22 de Abril de 2013, Segunda-Feira - 21:40 (aprox).
Não tinha vocação para poeta. Era apenas uma espiã dos sentidos que a conduzia na vida. Era desregrada até nos pés, que viviam soltos pela casa. Os cabelos pairavam na cabeça querendo voar, cada fio para um canto. Diziam que rebolava quando andava. Se era graça ou molejo ninguém nunca soube. Como nunca ninguém soube a confusão dos seus passos, que sempre tropeçavam em seus pensamentos que corriam mais que as ruas da cidade. E não gostava da cidade. Não se encaixava por ali. Mas guardava em segredo que viera de outra galáxia. Não gostava de estragar a simplicidade com títulos algum. Era do tipo que preferia que a vida acontecesse sem precisar que avisasse. E na verdade, não acreditava em títulos. Não tinha talento para artista. Mas se não fosse isso, o que mas seria? Amava o impossível do mundo. Como as cores, os moinhos de ventos, as manhãs de sábado, o barulhinho dos pássaros que não sabiam cantar outra coisa, os poemas inventados, os velhos que caminham com passinhos fracos. Amava. Sem sufocar. Mas sempre em silêncio para não chamar a atenção. E quando passava, um ar de suspense rodava o ambiente. Ninguém sabia o que pensar. Era estranheza que não parava mais. E tinha lá quem gostasse disso. E tinha lá quem achava por demais de estranho. E tinha lá quem não sabia o que pensar. E de estranheza, incerteza, pequeneza, não sabia ser de outro jeito. Se metia no que não devia. Tentava. Brincava de escrever, de rabiscar, de inventar. Não tinha vocação para poeta. Mas quem é que tem? Poeta que é poeta nasce se atrevendo, se metendo onde não deve. E se tinha ou não vocação para poeta, não queria nem saber. Se aventurava. Se arriscava. E continuava. Talvez com bastante ousadia. E pra que morrer sem se afoitar?
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Parou. Reparou. Escreveu e se foi.